Observações do Professor João Crepschi sobre MATTEO

"Acho, mesmo, que o que mais me chamou atenção no “Matteo...” foi a colocação, tão estética quanto política, do corpo-tio em cena. A nudez de Armando-Gottlieb, para ater-se ao mínimo que é máximo, tem a dizer e diz. Para além dela, aliás, é uma glória observar o que podem propor os corpos-tios em cena, no seu calo, calejo e limite."

Devo, de modo geral, parabenizar a vocês, em especial ao Liguori, pela adaptação: fazer como ele é, obrigatoriamente, fazer diferente. Para quem não leu o livro, a peça tem doses a mais de nonsense, o que incentiva outras leituras de uma e outra obra.

A sua precisão, Paulo; o humor calculado de Armando; os mergulhos sem rede de proteção de Sequeira; a agudeza atrevida de Farnezi; e o cosmopolitismo deliciosamente (ir)responsável de Abujamra fazem deste espetáculo um pentágono inteligente, de vértices e vórtices abertos.

Comovente ver que vocês não desistiram de suas bandeiras e que o tempo que viveram só lhes azeitou a crítica. Abujamra-pai costumava dizer – entre peso e júbilo – que ninguém superara a sua geração. Vocês podem dizer o mesmo da sua""

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"Gosto do que há de clownesco e de Kantor – tão querido do André – no anti-naturalismo deliberado dos movimentos de vocês três, e de nô ou de kyogen nas partituras corporais – involuntárias que sejam, e nunca o são de todo, que Abu é músico."

Matteo Perdeu o Emprego… Num desfile tresloucado de personagens múltiplas, em uma cidade que não sabemos se está fora ou dentro do palco, perdemos a nossa vergonha na cara ao sermos convidados a rir de todas as graças e desgraças que vemos em nossos dias… E também daquelas que não vemos ou fingimos não ver…

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ROMAN LOPES

A direção de André Abujamra é uma mistura de sala de aula, fim de feira e brincadeira de esconde-esconde, onde quadros recortados com uma tesoura de fé cega, uma trilha sonora de faca amolada e intervenções em vídeo eclipses alucinógenos arrebatam a nossa comodidade pequeno burguesa e a coloca em um paredão de formigamentos, que retira as camadas protetoras e deixa expostas as fraturas das inconveniências vividas..

Durante pouco mais de uma hora, em que o tempo parece estar em viagem de ferias, esses três bastardos gloriosos, com  profundamente faceis na aparência, mas que tocam na intensidade dos espectros mais graves da nossa existência, bailam como estrelas marinhas, transformando a todos em convivas de um banquete onde são servidas baratas, lixos e mortes...    

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Maria Carolina Coutinho

Daquelas peças que nos enlaça pelo estranhamento, daquele estranhamento tão necessário para nos desestabilizar e colocar conversa no pensamento e riso na reflexão.

Parabéns, “Tios”, pelo belo espetáculo.